sábado, 1 de maio de 2010

ALFACES E MULALAS


1808 é um marco na história do Brasil. Todo mundo está cansado de saber disso. Afinal, a pouco se comemorou seu centenário, virou best-seller e instituições honraram tediosas cerimônias em seu nome.
Mas assistindo a um programa de domingo, o que é raro (não tenho o hábito de assistir TV, ela carece de vida inteligente, especialmente aos domingos) conheci um pouco mais sobre o dia a dia na Ilha de Moçambique, na África, e fiquei assustada. Por conta disso relembrei o ano de 1808.
Se nesse ano a Família Real Portuguesa não tivesse enfiado o rabinho entre as pernas e fugido dos franceses, transferindo a sede do reino para sua próspera (em que sentido?) colônia na América, creio que teríamos dois possíveis futuros. Um pior que o outro...
No primeiro, estaríamos falando inglês e comendo ovos com bacon no café da manhã (argh!). Afinal, Portugal estava tão endividada com a Inglaterra que é quase certo que, para saldar suas altas dívidas, usaria sua mais abastada colônia como forma de pagamento. Sendo assim a Independência talvez viesse mais cedo, assim como a abolição dos escravos e hoje seríamos uma próspera potência de Primeiro Mundo, viciados em café instantâneo, filmes de ação e de tragédias ambientais (lembrando que todas essas tragédias ocorreriam aqui), o centro do Universo. Por outro lado, seríamos alvo de facções enfurecidas, pois inocentemente, tentamos meter o bedelho onde não tínhamos sido chamados... Por que será que não me sinto empolgada, heim?!?!
O segundo possível futuro é mais sombrio, até mais do que o atual... Quando não fossemos mais fonte de lucro para Portugal (algo que já vinha acontecendo, uma vez que as minas em Minas Gerais já não rendiam o esperado), ficaríamos a margem do Velho Mundo por um tempo, totalmente esquecido. Logo a colônia passaria a ser invadida e atacada por franceses, espanhóis, holandeses, ingleses (tal como aconteceu na Ilha de Moçambique, que até incendiado foi por uma potência européia enfurecida)... Todos querendo uma porção do que ainda poderia ser subtraído dessas terras. Logo eles se instalariam e retalhariam o pouco que ainda sobrava, em pequenos pedaços. Os nativos se refugiariam ainda mais para o interior, organizados em tribos e falando mil dialetos. Não haveria unidade política, os líderes locais seriam caçados como bichos. Falar em economia então, nem pensar. O dinheiro valeria menos do que vale o nosso querido real. Altos índices de analfabetismo, milhares de doentes, países inteiros sem saneamento básico, o esgoto a céu aberto espalhando doenças. Crianças raquíticas e subnutridas. Nunca saberemos do que escapamos, se é que escapamos ilesos (com certeza não).
De qualquer forma, hoje seríamos em tanto parecidos com os habitantes da Ilha de Moçambique. Estaríamos amontoados ao redor de um saco de estopa, esperando um arremedo de vendedor o abrir, para então disputar a tapas um minúsculo pé de alface, que levaria boa parte do nosso dinheiro. Ou ainda, usaríamos gravetos como escova de dente e batom (a mulala). Seria ecologicamente correto, mas já imaginou???
A grande pergunta é: o quão longe realmente estamos de tudo isso?

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